AURINO TEIXEIRA entrevista realizada no dia 02/08/2009

Chegamos à residência do Sr. Aurino, na fazenda Cerquinha, onde nos deparamos com um jovem senhor de 98 anos, muito bem humorado e com uma memória excepcional, repleta de histórias a serem partilhadas como todos nós. 
A conversa foi iniciada com Sr. Aurino relatando uma viagem sua ao Estado de São Paulo em idos do ano de 1952, ( uma demonstração de simpatia ao saber que eu sou paulistana ), para participar de uma convenção. Contou que se encantou com a grandiosidade da Capital paulista, as belezas das cidades litorâneas e seus portos, especificamente Santos, São Vicente, Guarujá, e a Ilha Porchat com seus cassinos.
Na continuidade da conversa, notamos que temos uma paixão em comum; A História. Como profissionais da área, ficamos extremamente estimulados com o fato de ter a oportunidade de trocar idéias com uma pessoa que viveu as principais transformações ocorridas em nosso país e particularmente as mudanças ocorridas na sociedade castroalvense.
Sr.Aurino se mostrou muito satisfeito com a nossa iniciativa de criar um site de cunho cultural para a cidade. Ressaltando a importância da valorização da memória de uma cidade e sua população, vejamos a seguir uma fala que afirma essa idéia: “Quando quero conhecer uma cidade, visito primeiramente seu cemitério; este local bem preservado significa que naquela localidade o passado é valorizado”.
Esta frase não faz parte de um discurso demagógico, Sr. Aurino preza e muito a história, e é profundo conhecedor das origens da cidade e de seus habitantes, tanto os ilustres como os habitantes comuns, - como foi verificado mediante as suas narrativas.
A história da cidade foi exposta desde os seus primórdios em meados do século XVIII, a árvore genealógica do poeta Castro Alves também foi narrada, episódios envolvendo o Dr. Rafael Jambeiro, o General Dionísio Cerqueira e de suas contribuições como político e cidadão castroalvense.

O PREFEITO

Dessas passagens que foram relatadas começarei a detalhar as falas referente a sua vida pública, como prefeito e vereador desta cidade, construiu o Fórum, a Maternidade e o Ginásio São José. Em relação a este último, notamos o espírito altruísta do Sr. Aurino, que beneficiou muitas pessoas (até para habitantes de Salvador) com bolsas de estudo, pois para ele todos temos mesmos direitos, tanto ricos quanto os pobres. E essas bolsas formaram pessoas que hoje são notórias.
Em 1971, Sr. Aurino assume a prefeitura, encontrado-a com os caixas vazios. Neste mesmo ano, é empossado o governador do Estado da Bahia, e o então prefeito segue com uma comitiva de prefeitos da região para recepcionar o Sr. Antonio Carlos Magalhães no Palácio Rio Branco, na capital baiana.
Os prefeitos tinham consigo congratulações e projetos que necessitavam de verbas. E o que receberão foi um “contra-dom” inesperado, o governador agradeceu e virou-se para o grupo de prefeitos e disse: “Para essa comissão eu não concederei nada, pois não apoiaram meu candidato à Deputado Federal” – Sr. Aurino se colocou atrás de um colega. Ao termino da fala do prefeito a comissão começa a ser retirar da sala. Quando o Sr. Aurino, a essa altura desanimado, é chamado pelo governador que pede seus projetos para que ele aprove a verba. O projeto da construção do Fórum foi negado logo de inicio, e os demais aceitos.
O prefeito volta para sua cidade preocupado, com o projeto que não foi aceito, porém não desiste. Meses depois retorna ao encontro do Governador e coloca propositalmente o projeto entre outros papéis e vai conversando com o governador, que se distrai e acaba assinando o projeto que autoriza a construção do Fórum. E assim, a cidade de Castro Alves ganhou o prédio da Justiça, graças a astúcia do então prefeito.
Na opinião de Sr. Aurino, o melhor prefeito que a cidade já teve foi Francisco de Barros Lordeiro, trouxe muitos benefícios para o município, tais como: a mudança de curso do Rio Jaguaripe, trouxe fabricas ( fumo ), deu a Castro Alves o titulo de primeira cidade do interior da Bahia a ter sistema de água encanada ( 1892 ), construiu a antiga delegacia de policia ( atual batalhão ), chafarizes...

 

CRONOLOGIA DA CIDADE

Agora, iremos pontuar algumas datas que o entrevistado nos passou:
- 1875 Construção da Capela – Sede – com doações do povo 
- 08/12/1875 Procissão de Genipapo, trazendo a imagem de Nossa Senhora da Conceição
- 1881 Estrada de Ferro, inauguração simbólica, pois os festejos oficiais ocorreram em São Félix.
- 1895 - Cemitério
- 1920 - Construção da torre da igreja 
- 1950 - Construção de uma nova nave para a igreja

 

O AUTOMÓVEL

A estrada de ferro trouxe inúmeros benefícios para a cidade, como também histórias engraçadas, como esta:
Era 12/03/1923, Sr Aurino repara que tem uma multidão na estação da cidade, então ele se desloca para lá com o intuito de saber o que acontece. O trem pára na estação e um automóvel e desembarcado e entregue a Dr. Rafael Jambeiro, que entra no mesmo juntamente com um motorista, imediatamente a multidão cerca o carro, os ocupantes que não tinham como dali sair, optaram por buzinar, o que causou um rebuliço, pois a multidão se assustou e foi gente caindo por cima do outro.
E assim chegou o primeiro automóvel da cidade, que foi do filho do Dr. Rafael Jambeiro. Para abastecer este carro os proprietários encontravam dificuldades, pois aqui na região não existia posto de abastecimento de combustível, e esse vinha de Salvador.
Para Sr. Aurino o automóvel não causou espanto, pois já tinha visto automóveis em 1921 em Salvador.

 

GENERAL DIONÍSIO CERQUEIRA

Agora falaremos sobre o General Dionísio Cerqueira, de acordo com o entrevistado o general, no “Sobrado” (atual Casarão), filho do Diretor da Faculdade De Medicina de Salvador ( na época ). 
Jovem intrépido Dionísio Cerqueira, aos 17 anos se oferece para servir o exército do Império, para combater os inimigos na Guerra do Paraguai, fato que espantou os oficiais, pois era um rapaz bem alinhado e mostrava que tinha uma origem abastada. Então, no ano de 1865, entrou no exército como praça e foi passando por todos os postos até o de general-de-brigada. O fato de ter se oferecido para servir o exército preocupou muito sua família, contudo, sua mãe sempre lhe mandava cartas de incentivo.
Ao término da Guerra do Paraguai, já era oficial, e voltou para Castro Alves, onde foi recebido como herói, veio visitar seu avô paterno, - esta passagem emocionou muito Sr. Aurino.
No governo de Prudente de Moraes foi Ministro das Relações Exteriores ( 1/09/1896 a 15/11/1898 ), neste cargo ele definiu as fronteiras do território da República Federativa do Brasil.Também foi Ministro da Guerra ( 23/11/1896 a 4/01/1897 ) e da Indústria, Viação e Obras Públicas ( 1/10 a 13/11/1897 ).
Enfim, essas foram algumas das inúmeras histórias que o Sr. Aurino Teixeira nos deu de presente, para estrear nossa série de entrevistas com os personagens reais da cidade de Castro Alves.

 

Luciana A. B. Silva
Colaboradora do Site Movimenta Castro Alves